Blog pessoal, de ''mim para mim''. Faíscas de luzes e contornos da minha sombra... Mas quem quiser também, esteja a vontade.

domingo, 6 de maio de 2012

sem título

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A terra úmida do sereno da última noite
Faz a grama deixar meus pés molhados enquanto caminho descalço.
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Ouço o canto dos pássaros mais distantes;
Vejo longe o gado enfileirado na campina.
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O sol aquece a friagem da madrugada;
Sinto o calor conduzindo sua vida em meus membros anestesiados pelo frio;
Minha face queima terapêuticamente.
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Chego à frente da capela,
Minh'alma pede para entrar.
Eu não hesitarei.
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Sentado em seus bancos de madeira
Vejo um modesto altar e algumas pétalas de flores deixadas pelas crianças do bosque.
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Sinto um vento suave que acaricia meu rosto;
E por alguns instantes me faz esquecer o sol já alto lá fora.
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Dizem que o verdadeiro calor
É aquele que aquece o coração
Através da fé.
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E que pétalas são como
recados deixados por seres angelicais
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sábado, 19 de março de 2011

Taizé - Irmão Roger o que não sabíamos

Irmão Roger, fundador da Comunidade Taizé.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Meu lado espiritual de ser - proposta para uma nova práxe espiritual

A maioria das pessoas acreditam num ''lado espiritual''. Esse tal lado espiritual significa o meio pelo qual é possível haver comunicação com o Divino. Assim, cultivar a espiritualidade passa a consistir em buscar a Deus, rezar/orar, ler textos sagrados, participar d'uma congregação, etc.

Mas o que penso sobre essa forma de espiritualidade? E o que penso sobre o lado espiritual humano??

Respondendo a primeira pergunta eu digo que nada de errado há em viver a espiritualidade da forma acima descrita (ler, textos sagrados, orar/rezar, frequentar um templo..). Contudo, eu acredito num lado espiritual cujos ''sentidos'' e formas de exercício ultrapassam as fronteiras dedutíveis desse modelo de prática espiritual. E daqui por diante começo a responder então a segunda questão.

- Um lado espiritual em primeiro lugar é também um lado humano, isto é, espiritual-humano; pois ao mesmo tempo em que através do espírito se busca o invisível, o eterno, o imutável, o núcleo e a impressão do Mistério que n'algum lugar e n'algum tempo nos selou, tal busca jamais será isenta do peso do corpo, da matéria, do corruptível, enfim, do pecado. Só haverá busca por Deus na medida da percepção de Sua falta em nós.
- Em segundo lugar, meu lado espiritual de ser não é ''um lado'', uma parte aparte, mas antes um todo, co-juntamente com meu lado físico e emocional. Assim exercito minha espiritualidade quando faço exercícios físicos, quando cuido da alimentação, quando trato as emoções, quando canto cantos que me tornam vivo, etc.
- Em terceiro, esse ''lado'' me ajuda não só em minha relação com Deus, mas também comigo mesmo. Assim, ser espiritual é alguém que não apenas ''se entende'' com Deus, mas também alguém que se entende ''consigo'' mesmo. Então quando estou em contato comigo mesmo, quando me sinto, quando entro na órbita de minha própria realidade, adentro numa conexão espiritual.

Dessa forma, não apenas textos sagrados e lugares sagrados fazem o arcabouço de uma práxe espiritual, mas tudo o que possa ser útil ao momento e à unidade (isto é, a desfragmentação) do ser, de sua consciência, e de seu sentir.

É como diz o livro A Cabana:

"..mas desse modo todos os caminhos levam o homem até Deus!

E Deus respondeu:

- Não. Na verdade, sou eu quem me utilizo de todos os caminhos para chegar até o homem!".

Ditos de São joão da Cruz

"A mosca que pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do prazer, sente-se impedida em sua liberdade e contemplação."

"Não faça coisa alguma, nem diga palavra alguma que Cristo não faria ou não diria se encontrasse as mesmas circunstâncias."

"Que felicidade o homem poder libertar-se de sua sensualidade! Isto não pode ser bem compreendido, a meu ver, senão por quem o experimentou. Só então se verá claramente como era miserável a escravidão em que se estava."

"Dar tudo pelo tudo."

"A pessoa que caminha para Deus e não afasta de si as preocupações, nem domina suas paixões, caminha como quem empurra um carro encosta a cima."

"O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado."

"O progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e sem saber."

''Que mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se encontras em teu próprio ser a riqueza, a satisfação, a fartura e o reino, que é teu Amado a quem procuras e desejas?''

''O centro da alma é Deus. Quando a pessoa se encontra com ele, em todas as suas faculdades, energias e desejos, terá atingido o cerne e a raiz mais profunda de si mesma, que é Deus.''

''O caminho da vida é de muito pouco ativismo e barulho. Requer mais mortificação da vontade do que muito saber. Caminhará mais quem carregar consigo menos coisas e desejos.''

''Quem souber morrer a tudo terá vida em tudo.''

''Dizem assim:


Para chegares a saborear tudo,

não queiras ter gosto em coisa alguma.

Para chegares a possuir tudo,

não queiras possuir coisa alguma.

Para chegares a ser tudo,

não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo,

não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas,

hás de ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes,

hás de ir por onde não sabes.

Para vires ao que não possuis,

hás de ir por onde não possuis.

Para chegares ao que não és,

hás de ir por onde não és.


Modo de não impedir o tudo:

Quando reparas em alguma coisa,

deixas de arrojar-te ao tudo.

Porque para vir de todo ao tudo,

hás de negar-te de todo em tudo.

E quando vieres a tudo ter,

hás de tê-lo sem nada querer.

Porque se queres ter alguma coisa em tudo,

não tens puramente em Deus teu tesouro.''

Um Éden invertido

A inversão do Éden, isto é, quando o céu vira inferno, quando a tarde vira madrugada assombrosa, quando as estrelas caem, quando os pássaros não cantam mais, etc., se percebe (tal inversão) de maneira bem simples - simples demais:

Ora, Adão não desmatou o jardim, não incendiou as florestas, não extinguiu espécies de animais, não esgotou recursos, não pixou muros, não sujou praças...

Tudo o que ele fez foi 'comer' um fruto que ele sabia ser proibido. Isso foi suficiente para que ele sentisse as chamas do inferno, para que ele adentrasse na assombrosa madrugada de sua alma, visse estrelas caindo sobre si, percebesse a ausência de alegria dos cantos do Éden..

Tudo isso se deu, por um simples 'comer', um simples 'mastigar'...

O Éden vira inferno por pequenas atitudes.

''Mas ninguém viu!'' pode alegar a tentação.

Mas não precisava, a alma de Adão viu, sua consciência sentiu, seu coração disparou.. contudo ele não deu ouvidos..

Os caminhos do homem que o levam em direção ao abismo não têm como característica grandes anúncios de perigos; não tem crateras que o alardeiam do mal; não é feito de mudanças na temperatura do clima.. não! Tudo é como o normal, pois o caminho de vida e morte do homem é o percurso de sua mente e de seu coração.

Foi assim no Éden: nenhuma folha caiu, o sol não esitou, o vento se manteve estável - mas dentro de Adão tudo caiu, a luz do sol escureceu, o simples vento lhe instabilizou...

Há os que arrogam-se muitas vezes ao dizer ''nunca matei, nunca roubei..''. Ora, não é necessário ''desmatar florestas'' nem ''incendiar campos'';

o Éden pode inverter o seu estado a partir de nosso interior, sem grandes anúncios no jornal por grandes infrações por nós cometidas; sem alertas na TV por crimes praticados..

O mal do homem é a coisa pequena que ninguém vê; muito embora a razão humana seja a maior de suas expectadoras, e isso basta.

Mas o oposto também é verdade.

O inferno pode tornar-se céu; entretanto, o mesmo princípio da simplicidade da inversão vigora: não é necessário ''reflorestar jardins e campos'', basta o passo de cada pé - em direção à origem da alma, em direção à Voz que orienta o coração, em direção à Fonte inesgotável de vida...

cada passo, mesmo lento, trará em si um nível de libertação experimentável quase que instantaneamente, isso porque o coração sabe bem o caminho de nossos ''pés''.

Então, fica aqui o conselho: O mal que mata é a coisa pequena que deixo apegar-se nas mangas de minha camisa.

O bem que salva é a coisa pequena que deixo prender-se nos fios de meu cabelo.

05 de junho de 2009

O que vê a minha alma

É como a luz do sol, mas é também como a luz de uma pequena e solitária estrela.

Porque de cada pessoa brota luz própria; e de cada solidão brilha, como céu reluzente, sobre o solitário deserto..

Solidão que transcende o "só", somente para estar em "solitude" com Deus.

É como um horizonte crepuscular a dizer "me retiro.. e escondo-me atrás das colinas de teu coração". Não há noite escura capaz de escurecer o brilho de um sol contido sob a alma.

É como se o crepúsculo e a alvorada se confundissem; como se meio-dia e meia-noite sorrissem em amizade; tempo e eternidade se comprimentassem em cortezia..

É como o canto dos pássaros pela manhã; é como o sono tranquilo de uma criança pela madrugada..

É como um silêncio reverberante.

É uma canção que nina a alma silenciosamente e silencia os ruídos que lhe são lembranças de um pesadelo já desperto pela realidade..

Passou a tempestade..

Após a agitação, o mar então respira, silenciosamente, refletindo o céu reluzente, estrelado...

19 de março de 2009

O que importa está nas mãos de Deus

“A contemplação genuína não implica tensão. Não há razão alguma para que afete os nervos de quem a pratica: ao contrário, os relaxa.

(…) Não há pressão na verdadeira contemplação, pois, quando o dom é verdadeiro, não dependemos dele; não somos escravizados pela ‘necessidade’ de vivenciar alguma coisa.

O contemplativo não busca confirmação da confiança em si mesmo, em sua virtude, em seu estado, em sua ‘oração’. Sua confiança está em Deus, não em si mesmo.

A paz e o ‘repouso’ da contemplação são frutos de uma fé viva na ação da graça divina.

O contemplativo é capaz de abandonar a si mesmo e a tudo mais por saber que tudo o que realmente importa em sua vida está nas mãos de Deus; por saber que não tem de ‘pensar no amanhã’.

Percebe plenamente a mensagem de salvação do Evangelho é pela graça de Deus, não depende do engenho humano.”

The Inner Experience, de Thomas Merton
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Um pensamento para reflexão: “A contemplação não dá as costas à realidade nem foge dela; vê através do ser superficial e vai além deste.

Isto implica aceitar plenamente as coisas tais como elas são e avaliá-las de forma saudável.”

A Experiência Interior, Thomas Merton