Blog pessoal, de ''mim para mim''. Faíscas de luzes e contornos da minha sombra... Mas quem quiser também, esteja a vontade.

sábado, 18 de dezembro de 2010

João Batista

(Do livro JESUS, O FILHO DO HOMEM, de Gibran Khalil)
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Não fico calado neste buraco imundo enquanto a voz de Jesus se faz ouvir no campo de batalha. Não devo ficar preso nem confinado enquanto Ele está livre.

Dizem-me que as víboras estão se enroscando em torno de Seus lombos, mas eu respondo que as víboras despertarão a Sua força, e Ele as esmagará com Seus calcanhares.

Sou apenas o trovão de Seu relâmpago. Embora eu tenha falado primeiro, Suas eram a palavra e o propósito.

Eles me apanharam desprevenido. Talvez ponham as mãos também sobre Ele. Todavia, não antes que Ele tenha proferido toda Sua palavra; e Ele os sobrepujará.
Seu carro passará por cima deles, o casco de Seus cavalos os esmagarão, e Ele triunfará.

Eles virão com espadas e lanças, mas Ele os enfrentará com o poder do espírito.
Seu sangue correrá sobre a terra, retirará as feridas e as dores serão reconhecidas; e o batismo será em suas próprias lágrimas até que estejam limpos de seus pecados.
Suas legiões marcharão com aríetes de ferro contra Suas cidades, mas em seu caminho se afogarão no rio Jordão, muralhas e torres serão erguidas mais altas e os escudos de Seus guerreiros brilharão mais que o sol.

Dizem que eu estou conivente com Ele, e que nosso propósito é instigar o povo a se levantar e se rebelar contra o reino da Judéia.

Eu respondo, e antes minhas palavras fossem chamas: “se eles consideram este poço de iniqüidades como um reino, então que ele caia na destruição e que não mais exista. Que vá para o mesmo caminho de Sodoma e Gomorra, e que esta raça seja esquecida por Deus, e esta terra reduzida a cinzas”.
Sim, atrás destes muros de prisão, eu sou de fato um aliado de Jesus de Nazaré, e Ele guiará meus exércitos, a cavalo e a pé. E eu, embora um comandante, não sou digno de soltar as correias de Suas sandálias.
Vá até Ele e repita minhas palavras, e então em meu nome implore por Seu conforto e Sua bênção.
Eu não estarei aqui por muito tempo. À noite, entre um despertar e outro, sinto uns pés lentos a caminhar com passos medidos sobre este corpo. E quando presto ouvidos, ouço a chuva a cair sobre minha sepultura.
Vá até Jesus, e dize-Lhes que João de Kedron, cuja alma está cheia de sombras e que logo se esvazia, reza por Ele enquanto o coveiro está por perto, e o carrasco estende a mão para receber seu salário.

terça-feira, 30 de março de 2010

Credo do Samurai

Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus pais.

Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa.

Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino.

Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão.

Eu não tenho poderes mágicos, faço da personalidade meus poderes mágicos.

Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.

Eu não tenho visão, faço da luz do trovão a minha visão.

Eu não tenho audição, faço da sensibilidade meus ouvidos.

Eu não tenho língua, faço da prontidão minha língua.

Eu não tenho leis, faço da auto-defesa minha lei.

Eu não tenho estratégia, faço do direito de matar e do direito de salvar vidas minha estratégia.

Eu não tenho projetos, faço do apego às oportunidades meus projetos.

Eu não tenho princípios, faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio.

Eu não tenho táticas, faço da escassez e da abundância minha tática.

Eu não tenho talentos, faço da minha imaginação meus talentos.

Eu não tenho amigos, faço da minha mente minha única amiga.

Eu não tenho inimigos, faço do descuido meu inimigo.

Eu não tenho armadura, faço da benevolência minha armadura.

Eu não tenho castelo, faço do caráter meu castelo.

Eu não tenho espada, faço da perseverança minha espada.
(Autor Desconhecido)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tomé

(Do livro, JESUS, O FILHO DO HOMEM, de Gibran Khalil)
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Meu avô, que era um homem da lei, certa vez disse: ”Obedeçamos à verdade, mas apenas quando a verdade é-nos manifesta”.
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Quando Jesus me chamou eu obedeci, pois Seu comando era mais forte que minha vontade; todavia, eu mantive meu alvitre.
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Quando Ele falava e os outros vergavam como galhos ao vento,eu O ouvia imóvel. Eu O amava.
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Há três anos Ele nos deixou. Formamos um grupo disperso para cantar Seu nome e ser Suas testemunhas perante as nações.
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Por esse tempo eu era chamado Tomé, o incrédulo. A sombra de meu avô ainda estava sobre mim, e eu sempre queria que a verdade me fosse manifestada.
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Eu queria mesmo colocar minha mão em minha própria ferida para sentir o sangue antes de acreditar em minha dor.
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Ora, um homem que ama com o coração e mantém a dúvida em sua mente, é como o escravo nas galés, que dorme no remo e sonha com a liberdade, até que o azorrague do feitor o acorde.
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Eu mesmo era este escravo que sonhava com a liberdade, mas o sono de meu avô pairava sobre mim. Minha carne precisava do látego de meu próprio dia.
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Mesmo na presença do Nazareno, eu fechava os olhos e via minhas mãos acorrentadas ao remo.
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A dúvida é uma dor solitária demais para saber que a fé é sua irmã gêmea.
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A dúvida é uma criança abandonada, infeliz e extraviada que, embora sua mãe que deu-lhe a vida a encontre e a envolva, se retrai por medo e precaução.
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A dúvida não conhecerá a verdade até que suas feridas sejam sanadas e restauradas.
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Eu duvidei de Jesus até que Ele se manifestou para mim, e meteu minha mão em suas próprias feridas.
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Então realmente acreditei e depois disso libertei-me do meu passado e do passado de meus ancestrais.
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Os mortos dentro de mim enterraram seus mortos; e os vivos viveram para o Rei Ungido, esse que era o Filho do Homem.
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Ontem me disseram que deveria ir proclamar Seu nome entre os Hindus e Persas.
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Eu irei. E desde esse dia até meu último dia, ao amanhecer e ao anoitecer, verei meu Senhor erguer-Se em sua majestade e O ouvirei falar.
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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Salomé - a uma amiga



(Do livro, JESUS, O FILHO DO HOMEM, Gibran Khalil)
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Ele era como os álamos a bruxulear no sol;
E como um lago por entre as colinas solitárias,
Brilhando ao sol;
E como a neve sobre as altas montanhas,
Branca, branca ao sol.
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Sim, Ele era como tudo isso,
E eu O amava.
Embora eu temesse Sua presença,
Meus pés não podiam suportar meu fardo de
quebrantamento
Para que eu pudesse envolver Seus pés com meus braços.
Eu teria Lhe dito:
“Eu matei Teu amigo em um momento de paixão.
Perdoarás meu pecado?
E não absolverás, em Tua misericórdia, minha juventude
De seu cego agir,
Para que possa seguir em Tua luz?”.
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Eu sei que Ele teria perdoado minha dança
Pela santa cabeça de Seu amigo.
Sei que Ele teria visto em mim
Um objeto de Seu próprio ensinamento.
Pois não havia vale de fome que Ele não pudesse atravessar,
E nem deserto de sede que não pudesse cruzar.
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Sim, Ele era como os álamos,
E como os lagos entre as montanhas,
E como a neve no Líbano.
E teria eu refrescado meus lábios nas dobras de Sua veste.
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Mas Ele estava longe de mim,
E eu andava envergonhada.
Minha mãe segurou-me para trás
Quando o desejo de buscá-Lo se apossou de mim.
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Sempre que Ele passava,
Meu coração ansiava pela formosura de Seu olhar distante e perto,
Mas minha mãe franzia-se em desdém,
Afastava-me da janela, e eu ia
Para meu quarto de dormir.
E ela gritava alto, dizendo:
“Quem é Ele, senão outro comedor de gafanhotos do deserto?
O que é Ele senão um zombador e um renegado,
Um sedicioso agitador que nos roubaria o cetro e a coroa,
E convidaria as raposas e os chacais de Sua terra maldita
A que uivassem em nossas salas e sentassem em nosso trono?
Vá esconder tua face desse dia,
E espera pelo dia em que Sua cabeça caia,
Mas não na tua bandeja”.
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Estas coisas minha mãe dizia.
Mas meu coração não guardava suas palavras.
Eu O ansiava em segredo,
E meu sono era povoado por trevas.
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E agora Ele se foi.
E algo que havia em mim também se foi.
Talvez tenha sido minha juventude
Que não queria demorar-se por aqui,
Desde que o Deus da juventude foi morto.

Música das auroras

sábado, 6 de fevereiro de 2010

No atemporal

Lá onde o tempo não passa...
Não passa porque não conta.
Não conta porque não sabe...
E mesmo se soubesse, não seria preciso.
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Lá estendi minhas roupas, meus sapatos,
e até meu relógio, artefato ultrapassado.
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Lá, sentei-me numa taubinha,
enconstei a ponta de meu pé no rio lento,
e atirei uma pequena pedra no horizonte perto-distante.
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Senti um frio que não era gelado;
Senti uma falta de ar que não era o meu ar;
Senti um fim que não era a morte:
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Era o Encontro que se encontraria com um perdido!?
Era o Espelho que tornaria nua minha nueza!?
Era o silêncio que calaria meu ruído mudo!?
Eu não sei.
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Ergui-me,
não pelos meus pés,
Mas sobre meu ser.
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Respirei, mas não o ar atmosférico, não o ar que infla os pulmões,
Mas o ar que enche a consciência de terna luz.
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Estendi minhas mãos para o além.
Agarrei-me no vazio de minha raza profundeza.
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Silêncio.
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Inquietei-me,
Aquietei-me,
Virei-me, e mais uma vez, levei dentro de mim
A escuridão como luz
O silêncio como resposta.
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(by Charles, fevereiro de 2010 )

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os cânticos meditativos

A oração através de cânticos é uma das expressões mais essenciais da busca de Deus.

Cânticos breves, repetidos várias vezes, sublinham o caracter meditativo.

Em poucas palavras, eles exprimem uma realidade fundamental, rapidamente captada pela inteligência.

Repetida até ao infinito, esta realidade é pouco a pouco interiorizada pela pessoa na sua totalidade. Os cânticos meditativos abrem-nos assim à escuta de Deus.

Numa oração comunitária, eles permitem a todos participar e permanecer juntos na espera de Deus, sem que o tempo seja demasiado cronometrado.

Para abrir as portas da confiança em Deus, nada pode substituir a beleza das vozes humanas unidas pelo canto.

Esta beleza pode fazer entrever «a alegria do céu sobre a terra», como o exprimem os cristãos do Oriente. E começa a desenvolver-se uma vida interior.

Estes cânticos também sustém a oração pessoal. Eles construem pouco a pouco uma unidade da pessoa em Deus e podem tornar-se subjacentes no trabalho, nas conversas, no descanso, ligando oração e vida quotidiana.

Mesmo inconscientemente, eles prolongam em nós uma oração, no silêncio do nosso coração.

Musicas de Taizé (atenção, se o link não abrir, copie-o e cole na barra de endereço):

http://www.taize.fr/ext/sound/mp3/Tu_sei.mp3

http://www.taize.fr/ext/sound/mp3/behute_mich_gott.mp3

http://www.taize.fr/ext/sound/mp3/In_Manus_Tuas_Pater.mp3

http://www.taize.fr/ext/sound/mp3/Mon_Ame_Se_Repose.mp3

Para mais: www.taize.fr/pt e depois clicar em MP3

Fotos de Taizé


O valor do silêncio




Três vezes por dia, tudo pára na colina de Taizé: o trabalho, os estudos bíblicos, os intercâmbios. Os sinos chamam à igreja para rezar.

Centenas, por vezes milhares de jovens de países muito diversos através do mundo, rezam e cantam com os irmãos da Comunidade.

A Bíblia é lida em várias línguas. No centro de cada oração comunitária, um longo tempo de silêncio é um momento único de encontro com Deus.


Silêncio e oração
Se nos deixarmos guiar pelo mais antigo livro de oração, os Salmos bíblicos, nós encontramos aí duas formas principais de oração: por um lado o lamento e o pedido de socorro, por outro o agradecimento e o louvor. De forma mais oculta, há um terceiro tipo de oração, sem súplicas nem louvor explícito. O Salmo 131, por exemplo, não é senão calma e confiança: «Estou sossegado e tranquilo… Espera no Senhor, desde agora e para sempre!»


Por vezes a oração cala-se, pois uma comunhão tranquila com Deus pode abster-se de palavras. «Estou sossegado e tranquilo, como uma criança saciada ao colo da mãe; a minha alma é como uma criança saciada.» Como uma criança saciada que parou de gritar, junto da sua mãe, assim pode estar a minha alma na presença de Deus. Então a oração não precisa de palavras, nem mesmo de reflexões.


Como chegar ao silêncio interior? Por vezes calamo-nos, mas, por dentro, discutimos muito, confrontando-nos com interlocutores imaginários ou lutando connosco mesmos. Manter a sua alma em paz pressupõe uma espécie de simplicidade: «Já não corro atrás de grandezas, ou de coisas fora do meu alcance.» Fazer silêncio é reconhecer que as minhas inquietações não têm muito poder. Fazer silêncio é confiar a Deus o que está fora do meu alcance e das minhas capacidades. Um momento de silêncio, mesmo muito breve, é como um repouso sabático, uma santa pausa, uma trégua da inquietação.


A agitação dos nossos pensamentos pode ser comparada com a tempestade que sacudiu o barco dos discípulos, no Mar da Galileia, enquanto Jesus dormia. Também nos acontece estarmos perdidos, angustiados, incapazes de nos apaziguarmos a nós mesmos. Mas Cristo também é capaz de vir em nosso auxílio. Da mesma forma que falou imperiosamente ao vento e ao mar e que «se fez grande calma», ele pode igualmente acalmar o nosso coração quando está agitado pelo medo e pelas inquietações (Marcos 4).


Fazendo silêncio, pomos a nossa esperança em Deus. Um salmo sugere que o silêncio é mesmo uma forma de louvor. Nós lemos habitualmente o primeiro verso do Salmo 65: « A ti, ó Deus, é devido o louvor ». Esta tradução segue a versão grega, mas na verdade o texto hebreu diz: «Para Vós, ó Deus, o silêncio é louvor».


Quando cessam as palavras e os pensamentos, Deus é louvado no enlevo silencioso e na admiração.
(Veja incríveis e belas imagens de Taizé em http://cristianismosemcensura.blogspot.com/2010/01/fotos-de-taize.html
e ainda em http://www.taize.fr/pt , onde é há mais conteúdo sobre a comunidade de Taizé.)

Imagens que inspiram











Sedentos de Deus


Então venham almas famintas; venham e sejam plenamente saciadas!
Venham, tragam as suas aflições, dores, e miséria, e serão confortadas!
Venham, os que estão doentes e cheios de males, e serão aliviados!
Venham, acheguem-se ao Pai que deseja abraçá-los em seus braços amorosos!
Venham, pobres ovelhas errantes de volta ao seu Pastor!
Venham, pecadores, ao seu Salvador!
Venham, os que são ignorantes em coisas espirituais! Vocês não são incapazes de orar!
Venham todos, sem exceção, venham. Por que Jesus Cristo chamou a todos vocês.
Entretanto, aqueles que estão sem coração submisso estão dispensados.
Porque deve haver um coração dócil perante Deus para receber seu amor.
(Madame Jeanne Guyon em "Experimentando Deus através da oração" )

UM ESPAÇO PARA A DÚVIDA


SE AS RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DA VIDA SÃO ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIAS PARA VOCÊ, ENTÃO ESQUEÇA A VIAGEM. VOCÊ NUNCA CHEGARÁ LÁ, POIS ESTA É UMA VIAGEM DE INCÓGNITAS, DE PERGUNTAS SEM RESPOSTA, DE ENIGMAS, DE COISAS INCOMPREENSÍVEISE E, PRINCIPALMENTE, INJUSTAS.


Madame Jeanne Guyon (citado por Philip Yancey em O Deus (in)visível )

UM ESPAÇO PARA A DÚVIDA II


QUANDO NOSSA CASA ESPIRITUAL ESTIVER EM ORDEM, MORREREMOS. E ASSIM PROSSEGUIMOS. CHEGA-SE A UMA RAZOÁVEL CERTEZA A RESPEITO DO CAMINHO A TRILHAR, MAS É UM PERCURSO NO ESCURO. NÃO CONTE QUE A FÉ TORNARÁ AS COISAS MAIS CLARAS. TRATA-SE DE CONFIANÇA, NÃO DE CERTEZA.

Flannery O'Connor (citado por Philip Yancey em O Deus (in)visível )

Milagre


Recolhe Senhor a minha dor, em um lugar seguro onde ela não possa me parar,
Permita que eu creia na promessa da manhã que traz o riso depois da noite que me machucou,
Faz-me aproveitar o cansaço como oportunidade de descanso em teus braços,
Sacia de amor minha sede de alivio,
Enche-me de coragem no entardecer e de muito mais vida ao amanhecer,
E por fim, traz-me à memória toda a métrica dessa pequena história,
Aponta os pontos e os contra pontos,
Cura-me ou sustenta-me, pois de uma forma ou de outra exclamarei, milagre.
(Fonte: blog jardimdaalma )

domingo, 17 de janeiro de 2010

João em Patmus

(Texto do livro JESUS, O FILHO DO HOMEM, de Gibran Khalil)

Falarei dEle mais uma vez.
Deus me deu voz e lábios, mas não palavras.
Sou indigno da plenitude da palavra, mas chamarei meu coração a meus lábios.

Jesus me amava, e eu não sabia o por quê.
E eu O amava porque Ele despertou meu coração para alturas além de minha estatura e para profundidades além de minhas sondagens.

O amor é um mistério sagrado.
Para os que amam, ele permanece eternamente sem palavras, mas para os que não amam, ele pode ser apenas uma brincadeira cruel.

Jesus chamou a mim e a meu irmão quando estávamos trabalhando no campo.
Eu era jovem e só a voz do alvorecer tinha visitado meus ouvidos.
Mas a Sua voz, e a trombeta da Sua voz foram o fim do meu trabalho e o início de minha paixão.
E nada havia para mim, então, a não ser caminhar no sol e adorar a doçura do momento.
Podeis conceber uma majestade amável demais para ser majestade? E uma beleza radiante demais para ser bela?
Podeis ouvir em vossos sonhos uma voz, tímida com seu próprio arrebatamento?


Ele me chamou, e eu O segui.
Naquela tarde voltei à casa de meu pai para pegar meu outro manto.
E disse para minha mãe: “Jesus de Nazaré me quer em Sua companhia’’.
E ela disse: “Vá pelo Seu caminho, meu filho, como teu irmão”.
E eu O acompanhei.
Sua fragrância me chamou e me dirigiu , mas só para me libertar.
O amor é um hospedeiro atencioso para seus convidados, mas não para os não convidados, sua casa é uma miragem e uma zombaria.

Agora quereis que explique os milagres de Jesus.
Todos somos o gesto milagroso do momento; nosso Senhor e Mestre era o centro desse momento.
No entanto, não era Seu desejo que tal gesto fosse conhecido.
Eu O ouvi dizer para os aleijados: “Levanta-te e vá para casa, mas não diga aos sacerdotes que eu te curei’’.
E o espírito de Jesus não estava com o coxo; estava antes com os fortes e eretos.
Sua mente buscava e capturava outras mentes e Seu espírito todo visitava outros espíritos.
E com isso, Seu espírito mudava essas mentes e esses espíritos.
Parecia milagroso, mas para nosso Senhor e Mestre era tão simples como respirar o ar de cada dia.

Deixai-me agora falar de outras coisas.
Um dia, quando Ele e eu caminhávamos sozinhos em um campo, estávamos ambos com fome e chegamos a uma macieira silvestre.
Só havia duas maçãs pendendo do galho.
Ele segurou o tronco da árvore com Seus braços e a sacudiu, até que as duas maçãs caíram.
Ele apanhou as duas e me deu uma.
A outra Ele manteve na mão.
Com a fome que eu tinha, comi a maçã, bem depressa.
Quando olhei para Ele, vi que ainda tinha a maçã na mão.
Ele me deu dizendo: “Como esta também’’.
E eu peguei a maçã, e na minha fome desavergonhada, comi-a.
E quando voltamos a caminhar, eu olhei para Sua face.
Mas como poderei dizer o que vi?
- Uma noite com velas a queimar no espaço;
- Um sonho além de nosso alcance;
- Um meio-dia com todos os pastores em paz e felizes com suas grei pastando;
- Um entardecer, e uma quietude, e uma volta ao lar;
- Então o sono e um sonho.

E todas estas coisas eu vi em Sua face.
Ele havia me dado as duas maçãs.
E eu sabia que Ele tinha fome tanto quanto eu.
Mas agora eu sei que dando-as para mim Ele tinha ficado satisfeito.
Ele comera de outros frutos, de outra árvore.
Eu vos falaria mais dEle, mas como o farei?
Quando o amor se torna grande demais, não há mais palavra.
E quando a memória está sobrecarregada, ela busca a profundidade silente.